Volta e meia alguém lança essa pergunta, e acredito que não só para nós, já que tem a ver com as mais diversas áreas da vida. Se antes tivéssemos o conhecimento e experiência que temos hoje, com certeza faríamos muitas coisas de forma diferente. E isso vale para mim, para você, para todos nós. Mas, sem tudo que aprendemos de lá até aqui, é bem provável que faríamos tudo igual de novo, concorda?
Então como evitar as “pedras no caminho”? Como ter mais sabedoria, discernimento, conhecimento antes mesmo de começar? A resposta é: recebendo isso de quem pode nos oferecer, de quem já trilhou o caminho que queremos trilhar e com quem podemos aprender e tomar decisões mais sábias.
Pensando nisso, hoje trazemos para vocês um pouco da sabedoria de duas pessoas que há dez anos vivem no Movimento Tiny House e ensinam tudo o que aprenderam nesse tempo: o Ethan Waldman, do site www.thetinyhouse.net, autor do livro Tiny House Decisions, construtor, morador e propagador do estilo de vida das mini casas sobre rodas; e a Lina Menard, uma das instrutoras da Bel no Workshop de projeto e construção de tiny houses, em Washington D.C., lá em 2017. Ela já morou em um trailer, num yurt, numa cabana no fundo de um quintal e em três tiny houses sobre rodas, duas projetadas e construídas por ela. Ela tem formação em design de construção sustentável e planejamento urbano. Você pode conhecer mais sobre ela no seu site Niche Design Build.
Eles conversaram em um podcast sobre esse tema: O que gostariam de saber antes de ter começado. Se você quiser pode conferir o podcast aqui.
Durante a conversa, surgiram alguns questionamentos como: Poderíamos ter construído mais rápido? Como manter o orçamento inicial? Saber os prós e contras e todas as etapas da construção, antes de começar. O efeito positivo de um grupo de suporte. E algumas outras coisas, então vamos ao que interessa.
O que você gostaria de ter sabido antes de começar? Por Lina Menard e Ethan Waldman
Quanto tempo vai levar pra construir?
Tendo como exemplo a construção de pessoas experientes como Dee Williams e a Brittany Yunker, que construíram suas próprias tiny houses em 3 meses, essa era a expectativa deles.
Lina contou que quando conheceu as tiny houses estava pra começar o curso de Planejamento Urbano e ai então pensou que poderia se programar para construir a mini casa durante as férias de verão e levá-la para a Faculdade e Cidade onde estava indo morar. Mas começou a refletir e ver exemplos de outras pessoas que tinham construído em muito pouco tempo, mas com muita ajuda e dedicação exclusiva e viu que não conseguiria porque tinha um emprego em tempo integral e só poderia dedicar a construção quando não estivesse trabalhando. Foi ai que decidiu alugar a tiny house da Brittany. Ela ressalta que foi uma experiência incrível porque criou um senso real do espaço, de como seria morar em uma tiny house. E então percebeu que levaria mais de 3 meses para construir a dela, mas não achou que levaria 6 meses, dedicando tempo exclusivo para a construção da Lucky Penny.
Ethan levou 13 meses mas não exclusivamente. Ele disse que tinha também o exemplo da Dee Williams, mas que seu amigo carpinteiro concordou que 3 meses seria tempo suficiente para a construção. E ele relembra que quando completou três meses, não tinha feito quase nada, tinha o piso inferior emoldurado e algumas paredes emolduradas, mas ainda não instaladas no trailer.
Os dois mencionam que uma das coisas que gostariam de saber é quanto tempo a construção iria durar e como fazer o cálculo desse tempo. Gostariam de ter entendido um pouco mais todas as diferentes coisas que englobam a construção das tiny houses, ter tido uma noção geral de todos os passos e sequências de cada etapa do processo, para que estivessem realmente prontos para fazer tudo que fizeram.
E se soubesse naquela época o que sabem hoje? Eles se questionaram, e chegaram a conclusão que teriam levado menos tempo, mas não só 3 meses como achavam, e sim que fariam tudo com mais sabedoria e planejamento. Com definição das expectativas de forma adequada, orçando bem o tempo, dinheiro e energia de uma maneira mais justa e real. Que claro que ter o conhecimento de construção que eles tem hoje teria acelerado a construção, porque a curva de aprendizado seria diferente. E o Ethan diz que talvez tivesse usado outro sistema construtivo, no lugar do Wood Frame teria feito com SIP, como a Lina, porque acha que isso poderia acelerar de forma notável a construção. São questões a considerar, sobre cada etapa da construção, cada material que será usado e quais técnicas serão utilizadas, e a influência de cada uma das escolhas.
Mesmo que tivessem levado o mesmo tempo, os dois dizem que teriam se planejado melhor e não teriam suas expectativas tão altas, teriam feito uma melhor distribuição e uso do dinheiro e do tempo. Não se tem noção do esforço que se faz para construir, não só o esforço físico mas também o esforço mental, eles se lembram de ficarem mais cansados, de se sentirem esgotados mentalmente e fisicamente, porque é um trabalho fisicamente difícil. E se você está aprendendo como fazer, enquanto faz, é mais cansativo ainda.
E também tem outra questão, eles relembram que quando fizeram não tinham tantas pessoas fazendo e agora tem muitas pessoas fazendo, muitos se ajudando e se apoiando, existe uma rede de apoio, muitos passando pelo processo juntos e aprendendo juntos. Agora as pessoas têm oportunidade de se conhecerem, de trocar ideias e experiências de aprender umas com as outras isso é muito legal.
Quanto vai custar tudo?
Uma das coisas que gostariam de saber é como fazer um orçamento para um projeto de construção. Por coincidência os dois tinham previsto um orçamento de U$25.000, porque na época a Tumbleweed Tiny Houses tinha os valores e previsões de custos de construção divulgados, mas não diziam como fazer um orçamento geral e nem como não exceder. Eles não sabiam que o valor total da construção tinha muito haver com os materiais que fossem escolhendo para a construção e principalmente para o acabamento, e isso só alguém que já passou pelo processo pode ajudar a calcular todo o orçamento da construção e de como chegar nele de acordo com as escolhas que você fizer ao longo do processo.
Os dois excederam esse orçamento e investiram entre U$ 30.000 a U$ 34.000 no final da construção, o que na época, a dez anos atrás era um ótimo investimento. Fazendo tudo por conta própria, com a ajuda de amigos, e fazendo reaproveitamento de materiais e comprando alguns com bastante desconto.
Eles lembram que as tiny houses antes não tinham tantas modernidades, às vezes nem mesmo aquecimento, geladeira ou chuveiro, como a da Dee Williams. As casas eram mais simples, as pessoas tinham essa questão de construir com menos luxos.
Acesso a informação
Uma das coisas que me anima bastante hoje é porque temos muitas informações, a Lena comenta. Mas completa dizendo que são muitas informações perdidas, em vários lugares e de forma não organizada. Então por mais que as pessoas tenham mais acesso a essas informações, pode tornar tudo mais confuso e mais difícil na hora de tomar decisões e saber que caminho será o melhor a seguir.
Por isso eles atuam direcionando as pessoas com as informações, onde encontra-las e como tomar decisões. Conseguem desenvolver um sistema de como guiar essas pessoas, mentorar, orientar, inspirar e ajudar a responder as grandes questões: qual sistema de construção usar, se a tiny house é realmente para você, escolher entre sobre rodas e fixa, qual realmente será o custo, qual será a logística de transporte e mudança, detalhes de todas etapas da construção: como será a elétrica, a hidráulica, o isolamento, a ventilação, e todos as outras decisões que devem ser feitas. Como deixar ela com aconchegante, confortável, bonita e com jeito de lar.
Hoje as pessoas são muito mais informadas de várias maneiras, porque procuram todos esses diferentes recursos, e pode ser difícil peneirar tudo. Há ainda mais perguntas do que antes porque as pessoas tem mais ideias sobre o que perguntar. Mas é difícil fazer escolhas.
Eles comentam em como os programas de televisão sobre tiny houses fazem dramas relacionados ao processo de construção e que não é exagerado mostrar o drama, mas que existem muitos outros e mais graves, que não são mostrados. Como resolver e até evitar certos contratempos, como vai ser para viajar com a tiny house, como encontrar local para estacionar, onde morar, e como fazer o transporte, são detalhes que os shows de tv não mostram.
Por isso eles indicam as aulas direcionadas, onde você primeiro passa pelo passo a passo do design da tiny house, etapa em que é preciso considerar muitos detalhes, sobre os quais geralmente não refletimos quando o assunto é o projeto e construção de uma casa, independente do tamanho dela. Sobre o design de uma tiny house, Ethan diz que existem tantas considerações, que pode ser difícil encaixar tudo.
Lina acha que começar a desenhar e projetar uma tiny house sem ter feito todas essas considerações, sem passar por todos esses detalhes e etapas de reflexão, vai ser como você desenhar sem realmente ter a percepção do que você precisa e de como chegar no resultado final, seria como pular direto para uma aula de matemática avançada antes de aprender, o básico da divisão e multiplicação. As pessoas acham que tudo isso é uma coisa muito simples, mas isso é uma ciência de construção fundamental.
Que se você tiver o suporte e as informações você pode sim fazer. Tem casas fantásticas construídas por pessoas normais que nunca construíram nada antes. Mas também está tudo bem se você não quiser construir a sua própria casa, você pode aprender todo o processo e contratar pessoas para construir, contratar uma empresa especializada para construir, mas sabendo como tudo funciona você vai poder acompanhar todo esse processo de construção feito por outra pessoa e saber exatamente o que está sendo feito, você vai saber o que perguntar e como perguntar, e se você não falar a mesma linguagem que a pessoa que está construindo, você pode via a ter algumas decepções e algumas confusões com relação a sua expectativa do que pode ser entregue por esse profissional.
“Se você vai contratar alguém pra construir para você, eu diria até que você precisa saber disso tudo. Porque você não sabe o que seu construtor vai colocar nas paredes e como eles vão fazer coisas. É uma coisa real de conscientização do consumidor saber o que significa até mesmo perguntar sobre. Certo? Se você não está fazendo perguntas que são informadas e se você não falam a mesma língua, da pessoa que está construindo sua casa, provavelmente não vai haver um alinhamento de expectativas.”
Como funciona a elétrica de uma casa?
Sobre o que mais gostaria de saber antes de ter começado, a Lina falou do quanto ela gostaria de saber sobre a parte elétrica de uma tiny house, como funciona, como se conecta, quais são os sistemas possíveis, as voltagens nos possíveis cidades onde ela moraria com a tiny house. Ela não entendia sobre esses sistemas quando estava projetando sua tiny house, e acha que se soubesse um pouco mais e se tivesse passado mais tempo entendendo e aprendendo, teria usado melhor os espaços da mini casa com relação a onde colocar as tomadas, onde colocar iluminação e interruptores, onde instalar a caixa de distribuição, o que que seria possível fazer
O Ethan contou que ele também não sabia nada e que sua tiny house tem uma capacidade muito baixa de apenas 30 amperes, ou 360 watts, são circuitos de 2 a 15 amperes. Se ele quisesse atualizar o sistema de aquecimento atual, que é propano de ventilação direta, para um elétrico, ele teria que adicionar outro painel elétrico. Ele mudou do propano para um aquecedor elétrico de água quente, e conta que isso são tecnicamente 12 amperes só ali. Como está hoje ele também não conseguiria colocar um ar condicionado. São detalhes importantes que ele gostaria de ter entendido, como pensar as nossas necessidades, mas também pensar no futuro, em possíveis mudanças ou melhorias que interfiram na parte elétrica.
Fatores decisivos na construção: isolamento térmico!
Vou falar sobre uma decisão de construção de tiny houses que eu queria ter entendido desde o início: pontes térmicas – disse o Ethan.
Ele ressaltou sobre o isolamento, o que é preciso fazer nos pequenos detalhes para que você não tenha aquela transferência de calor através dos parafusos, por exemplo. Segundo ele, a sua tiny house é quente o suficiente, mas nunca funcionou no frio tão bem quanto ele esperava. Ele acha que poderia ter dado mais atenção ao tipo do material que ele escolheu para isolar as paredes e onde aplicar, e sobre o cuidado com a vedação, porque mesmo estando bem isolada e tendo todas as paredes seladas, cada viga, cada janela, cada canto, pode ser uma fuga de calor e isso influencia nos dias mais frios.
Tempo de reflexão e planejamento
E por último eles falaram do quanto os períodos de reflexão são importantes e que se você acesso a materiais e exercícios que ajudem você a refletir sobre todas questões importantes, você terá um direcionamento e poderá usá-los no seu projeto e construção se fizer por conta própria, ou levá-los até a empresa e profissionais que você escolher para construir sua mini casa, e assim acompanhar todo o processo de construção, e se manter informado sobre o que está sendo feito.
Quanto mais conhecimento você adquirir antes de iniciar todo processo, mais você economiza em tempo, em dinheiro e mais informado e mais preparado para entrar um projeto como esse você estará.