Dores de cabeça, enxaqueca, noites mal dormidas, irritabilidade extrema, muito cansaço, náuseas, falta de apetite e dificuldade de memória. Esses foram os sintomas que ignorei por muito tempo, enquanto me esforçava para cumprir metas e garantir meu salário no final do mês. No entanto, foi exatamente esse erro que me levou a um diagnóstico devastador: a Síndrome de Burnout.
Quando nos deparamos com esse diagnóstico, várias perguntas surgem em nossa mente: Será o fim? Existe cura? O que fazer?
Neste artigo, compartilharemos as nossas experiências e a importância de compreender que a culpa não é nossa. Vivemos em um mundo acelerado, expostos a cada vez mais demandas, informações e pressões. A tecnologia evoluiu para nos ajudar, mas também ultrapassou limites, impondo maior produtividade e a sensação de que nosso tempo se encurtou.
É necessário atualizar-se constantemente para não ficar para trás, e quando chegamos em casa, nosso momento de descanso passa a ser o início de outra jornada.
O que é a Síndrome de Burnout?
A Síndrome de Burnout, também conhecida como a depressão do trabalhador e síndrome do esgotamento profissional, é uma condição caracterizada pela exaustão física e mental. É um problema que afeta cada vez mais pessoas, trazendo mudanças na bioquímica do organismo, como a liberação excessiva de cortisol, e manifestando-se por meio de sintomas como sensibilidade, instabilidade emocional, irritabilidade, falhas de atenção e concentração.
Essa condição tem origem no trabalho excessivo e no estresse causado pela atividade profissional. Profissionais como médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros e professores são alguns dos mais afetados pela Síndrome de Burnout. Infelizmente, metade das pessoas que sofrem com essa condição não conseguem retornar à sua profissão.
O estresse crônico e grave proveniente do trabalho é uma realidade que afeta muitos trabalhadores brasileiros. Segundo a Associação Internacional de Manejo do Estresse, cerca de 72% dos trabalhadores no Brasil sofrem alguma sequela causada pelo estresse. Aproximadamente 20 mil brasileiros necessitam de afastamento médico anualmente devido ao estresse, porém, muitos não se afastam por medo de perder o emprego.
As novas configurações do trabalho têm contribuído para o desgaste emocional e físico. A necessidade de estar constantemente se aprimorando em um mundo com informações cada vez mais rápidas, a tênue linha entre trabalho e vida pessoal, o aumento das horas de trabalho, a intolerância à frustração e as exigências dos colegas de trabalho são alguns dos fatores que colaboram para o surgimento do Burnout.
É importante ressaltar que a Síndrome de Burnout ocorre devido ao trabalho, mas pode ser confundida com o esgotamento, que pode estar associado a outras situações de estresse que não envolvem o trabalho.
Sintomas Fisiológicos, Emocionais e Comportamentais da Síndrome de Burnout
A identificação dos sintomas da Síndrome de Burnout muitas vezes é tardia, pois são associados a outras circunstâncias, como cansaço excessivo ou sedentarismo. No entanto, é essencial reconhecer os sinais e sintomas dessa condição. Segundo a Psicóloga Eymi Rocha em um episódio do podcast do Dr. Drauzio Varella, eles podem ser divididos em fisiológicos, emocionais e comportamentais:
- Sintomas Fisiológicos:
- Dores de cabeça
- Distúrbios do sono
- Distúrbios intestinais
- Falta de foco
- Perda de memória
- Falta de energia
- Sintomas Emocionais:
- Irritabilidade
- Dificuldade de concentração
- Diminuição da autoeficácia
- Perda de interesse em atividades antes prazerosas
- Sintomas Comportamentais:
- Diminuição do comprometimento
- Isolamento social
- Auto cobrança excessiva ou abandono de responsabilidades
- Aumento do consumo de drogas e álcool
Consequências e Tratamento da Síndrome de Burnout
As consequências do diagnóstico tardio da Síndrome de Burnout podem ser graves, levando à depressão, transtornos de ansiedade e incapacidade de trabalhar. Portanto, é fundamental buscar tratamento assim que os sintomas forem reconhecidos.
O tratamento da Síndrome de Burnout geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar. Entre as opções de tratamento estão:
- Terapia: A terapia individual ou em grupo pode ajudar a compreender e lidar com os fatores subjacentes que contribuíram para o Burnout, além de desenvolver estratégias de enfrentamento mais saudáveis.
- Medicamentos psiquiátricos: Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser recomendado para tratar sintomas como ansiedade e depressão associados à Síndrome de Burnout. É essencial consultar um profissional de saúde qualificado para avaliar a necessidade e a adequação desses medicamentos.
- Reposição de vitaminas: O esgotamento físico pode levar a deficiências nutricionais. Em alguns casos, a reposição de vitaminas e minerais pode ser necessária para restaurar o equilíbrio do organismo.
- Revisão do relacionamento com o trabalho: Avaliar e fazer mudanças no ambiente de trabalho, como reduzir a carga horária, estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal, buscar apoio e reconhecimento, são ações importantes para evitar a recorrência da Síndrome de Burnout.
É importante ressaltar que o tratamento da Síndrome de Burnout pode levar tempo. Geralmente, os efeitos do tratamento começam a ser percebidos em, no mínimo, dois meses. É fundamental ter paciência, buscar apoio e adotar medidas de autocuidado ao longo do processo de recuperação.
Nossa História com a Síndrome de Burnout
O Elástico do Estresse
Para ilustrar o processo de esgotamento, imagine um elástico que você estica e encolhe. Esse elástico representa o estresse em nossas vidas. No início da semana, o elástico começa a se esticar, mas, no fim de semana, ele encolhe, proporcionando um intervalo para descanso.
No entanto, muitos de nós não têm conseguido descansar devidamente devido a diversos motivos, como excesso de preocupação com o trabalho, sobrecarga, dupla jornada, assédio moral e a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos sozinho(a).
Nessa situação, o elástico começa a se esticar ainda mais e a ficar frouxo, desgastado. Chega a segunda-feira e você o estica ainda mais. No fim de semana, espera descansar, mas há um ponto em que, de tanto esticar o elástico, ele não volta mais ao normal, perdendo sua resiliência. Quando voltamos a trabalhar, chega o momento em que o elástico se rompe, e esse rompimento é justamente o esgotamento, a conhecida Síndrome de Burnout.
Dos Sonhos à Adversidade
Éramos um casal comum, com sonhos de ter uma casa própria, comprar um carro e constituir uma família. Infelizmente, nossa história foi interrompida pelo adoecimento causado pela Síndrome de Burnout.
Eu, Bel, uma sagitariana, uma metamorfose ambulante, escolhi o turismo e a hotelaria como minha profissão. Trabalhei em resorts no Nordeste e em hotéis 5 estrelas no exterior, sempre buscando explorar ao máximo minha carreira.
O que mais me atraía nessa área era o contato com pessoas diferentes, a oportunidade de realizar sonhos e proporcionar experiências únicas, em qualquer lugar do mundo. Foi assim que conheci Robson em uma festa e a vida parecia sorrir para nós. Decidi aceitar um emprego em São Paulo e mudar-me para a capital, onde começamos a namorar e a planejar nossa vida juntos.
Eu, Rosbon, tinha formação em Estatística e sempre trabalhei em áreas analíticas, prestando consultoria para empresas e pesquisadores, além de atuar no setor financeiro. Minha carreira estava em ascensão, conquistando espaço e reconhecimento por minha criatividade, rapidez e habilidade interpessoal.
No entanto, nossa vida começou a se complicar após a compra da casa própria, que trouxe consigo uma grande dívida e desafios financeiros inesperados. Além disso, os ambientes de trabalho tornaram-se cada vez mais estressantes, com demandas exorbitantes, metas irreais e uma cultura de competitividade acirrada.
Essa combinação de fatores colocou uma pressão imensa em nossas vidas, e pouco a pouco fomos sucumbindo ao estresse e à exaustão. Aos poucos, os sintomas começaram a se manifestar, mas eu, assim como muitas pessoas, ignorei-os, acreditando que era apenas uma fase passageira.
No entanto, chegou um ponto em que não conseguia mais ignorar a realidade. Meu corpo e minha mente estavam esgotados. Fui diagnosticada com a Síndrome de Burnout, o que me obrigou a repensar minha vida e priorizar minha saúde e bem-estar.
Minimalismo e Tiny Houses
Hoje, somos conhecidos principalmente pelo estilo de vida minimalista e informações preciosas sobre Tiny Houses no Brasil, mas nosso caminho começou com a reflexão sobre o que realmente é importante para nós como indivíduos e como família.
Conhecemos primeiro o minimalismo e já começamos a aplicá-lo, pois tudo o que víamos e ouvíamos sobre o minimalismo como estilo de vida fez sentido naquele momento.
Começamos aplicando em nossa casa, depois fomos para outras áreas da nossa vida, evitando o excesso de informação, de atividades em nossa agenda, de compromissos que não faziam mais sentido, entre outras mudanças em nossos hábitos.
Hoje, moramos em uma mini casa de 27m2. Foi a nossa forma de ressignificar a nossa vida e dar espaço a coisas que nos fazem bem.
Cada pessoa tem o seu processo, no final. O importante é prestar atenção ao que nosso corpo e nossa mente nos dizem e ver se eles estão enviando esses sinais de alerta. É muito mais fácil desacelerar e previnir, do que ter que remediar depois.
Faz sentido?
Fizemos um vídeo contando em detalhes a nossa trajetória e como a Síndrome de Burnout mudou tudo em nossa vida. Assista aqui:
Referências para esse artigo:
SÍNDROME DE BURNOUT | ANA BEATRIZ