CASINHAS MINÚSCULAS. COM NO MÁXIMO 42M², RESIDÊNCIAS COMPACTAS CONQUISTAM ADEPTOS DO MINIMALISMO, QUE SE SENTEM MAIS LIVRES E EM CONTATO COM A NATUREZA E AS PESSOAS.
As casas minúscula já chegaram ao Brasil.
Reportagem de Érika Gonçalves – Matéria Publicada em 05/08/2017
Fixas ou sobre rodas, as casinhas aos poucos vão conquistando adeptos no Brasil, pessoas que optam por viver com apenas o necessário, em troca de muita liberdade. O casal Robson Lunardi e Isabel Albornoz, de Osasco (São Paulo), escolheu trocar uma casa com 150 m2 na capital por uma de 35m2 – de 2,6m x 8m -, no interior do Estado. A decisão, entretanto, não veio de um dia para o outro.
O bancário e a turismóloga tinham carreiras promissoras, trabalhavam a maior parte do dia e em 2013 acabaram tendo a Síndrome de Burnout, que causa imenso esgotamento físico e mental. “Começamos a repensar a vida, a praticar yoga, a prestar mais atenção no que comemos. Reduzimos os industrializados e sentimos uma melhora muito grande na saúde física e mental”, conta Albornoz.
Lunardi diz que os hábitos saudáveis fizeram muito bem aos dois, que passaram também a produzir alguns produtos de higiene pessoal e de limpeza. Em 2015 nasceu o filho do casal, João Pedro, que ao invés das fraldas descartáveis, usou as tradicionais fraldas de pano. Albornoz optou por não voltar a trabalhar depois da licença maternidade e o casal passou a se preparar para que ele também deixasse o emprego. Ela já pensava em sair de São Paulo e Lunardi passou a considerar isso também.
“Começamos a sentir falta do nosso antigo apartamento, bem menor do que a casa em que morávamos, e com o nascimento do João Pedro, começamos a economizar. Tínhamos muita coisa e decidimos doar e vender várias delas. Percebemos que quanto menos coisas, mais tempo, mais dinheiro, mais liberdade tínhamos, nos sentimos mais leves. Então colocamos a casa à venda, já que o financiamento consumia parte da nossa renda”, explica ela.
Para ajudar a decidir do que se desfazer, Albornoz conta que encaixotaram vários objetos e deixaram na edícula da casa. Depois de um ano, tudo que não havia feito falta, foi eliminado. O casal decidiu economizar mais ainda e foi então que Lunardi propôs que se mudassem para uma Tiny House. Ela diz que se assustou de início, por ser uma casa muito pequena.
No final do ano passado, com a venda do imóvel, eles se mudaram para uma casa menor em Osasco e Lunardi deixou o trabalho. A família então viajou para os Estados Unidos, onde foi conhecer todo o processo para construção de uma Tiny House e morou em duas delas, para ver se iriam se adaptar.
“Moramos em uma casa em Tampa, mais moderna, que ficava no quintal de outra casa. Por fora parecia ser minúscula, mas era muito aconchegante por dentro. O João Pedro amou! A outra era próxima a Orlando, mais rústica e também menor, nela passamos muito tempo fora de casa. Com a Tiny você cria conexão com a natureza e também com as pessoas”, afirma Albornoz.
Construindo
Ao voltar para o Brasil o casal resolveu colocar mãos à obra e construir sua Tiny. Foi preciso encontrar uma empresa disposta a vender o chassi e outra que ajudasse na construção. “As leis brasileiras preveem que caso ocorra um acidente na estrada, a empresa fabricante desse chassi pode ser responsabilizada e por isso encontramos dificuldades para comprar essa base. Mas acabamos descobrindo entre amigos duas empresas que poderiam nos ajudar, e o melhor de tudo, com o mesmo sentimento que o nosso, de fazer a diferença, de preocupação com a sustentabilidade e não somente com o lucro em cima do projeto”, diz ele.
A casa já está em fase de construção e será feita com estrutura de steel frame. O casal irá providenciar junto ao Inmetro a validação da casa, para que sirva como projeto piloto para outros interessados em construir sua Tiny House. O design do interior foi projetado pelo casal, com acompanhamento de engenheiros e arquitetos. O modelo escolhido foi o de uma Tiny House móvel justamente para que a casa possa ser levada para qualquer lugar, de forma que mais pessoas possam conhecer o sistema.
“Queremos fazer uma reflexão da responsabilidade social, sobre o que acontece depois que consumimos algo. Não é ético nem saudável tanto consumo”, afirmam. A expectativa é de que a casa esteja pronta até novembro.
Conceito surgiu com a crise nos EUA
Robson Lunardi conta que as Tiny Houses nasceram no final da década de 1990, nos Estados Unidos, e eram montadas sobre rodas justamente para não pagarem impostos. Na crise norte-americana acabaram se popularizando. Para ser considerada uma Tiny, a metragem máxima deve ser de 42m2 e muitas pessoas optam por morar em uma maior e posteriormente reduzir o tamanho.
A Tiny do casal terá um banheiro, um espaço para a cozinha e sala e em cima o loft, com os quartos do casal e do filho. É inevitável pensar no porquê construir uma minicasa sobre rodas quando há tantos trailers e motorhomes prontos no mercado. Lunardi explica que a Tiny House tem o mesmo conforto e os isolamentos acústicos e térmicos de uma casa convencional, diferentemente das outras opções sobre rodas.
Assim como nas outras modalidades de moradia sobre rodas, as Tinys também precisam de um ponto de energia elétrica e água, sendo a ligação com o esgoto opcional. O casal optou por uma privada seca, com sistema de compostagem. O acessório foi comprado nos Estados Unidos e escolhido após muita pesquisa. A casa também terá uma caixa de resíduos para a água cinza, oriunda da pia e do chuveiro.
Isabel Albornoz calcula que ainda será preciso doar 50% das coisas que a família tem, para que tudo caiba na nova casa. “Ficaremos com seis copos, por exemplo. Vamos precisar de ajuda de quem for nos visitar para levar as coisas. Também teremos apenas dois jogos de lençóis e toalhas, para que um esteja em uso enquanto o outro estiver lavando. Edredom deve ser apenas o que ficar na cama, já que não haverá armários para guardá-lo. Os móveis também estão sendo planejados para terem mais de uma função”, diz.
O casal reconhece que morar em uma Tiny House não é para qualquer pessoa. A sensação de conforto que alguns sentem de dormir próximo ao teto pode ser de claustrofobia para outros.(E.G)
Érika Gonçalves
Reportagem Local
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